Entrevista 30/07/2004

Diana Bouth
A Mulher da RapSoulFunk! acreditando na qualidade do hip-hop carioca...
Ao contrário do que muitos imaginam ao seu respeito aqui no Rio, apesar da sua pouca idade, ela apresenta um vasto e respeitável currículo junto ao hip-hop. Sua história começa em 1992, em São Paulo, quando tinha apenas 12 anos. Freqüentadora assídua de bailes tradicionais como o Projeto Radial (zona leste), Soweto (Pinheiros) e Sub Club, esta pré-adolescente já trazia na veia sua identificação com o mundo black. Neste mesmo período, ela passa a dividir sua atenção entre o seu padrasto, Branco Mello, que fundara na época junto a sua banda, Titãs, o selo Banguela – que no futuro próximo daria suporte à artistas como Mundo Livre S/A, Raimundos e o grupo de rap Sistema Negro – e o meio irmão dele, Primo Preto, que, similar a história de Russell Simmons (um dos donos da gravadora americana de rap Def Jam), acreditava no sucesso dos talentos do hip-hop paulistano, dedicando seu tempo ao crescimento destes artistas. Em 1995, após passar uma temporada como vj do programa Yo! MTV Rap`s, Primo Preto se desliga da emissora e passa a investir em eventos e bailes de hip-hop, agenciando também alguns artistas do movimento, montando a loud de entretenimentos RapSoulFunk! em sociedade com Mr. Catra. Aproveitando a oportunidade, esta já adolescente, ao lado da rapper Lady Rap, se torna ´door` das festas undergrounds da Nation (atual Class) , no centro de São Paulo, onde começa a desenvolver seu relacionamento com a geração hip-hop. No ano de 1996, ela recebe sua segunda oportunidade, e, juntamente com Lady Rap e Primo Preto organizam a primeira edição do Melhores do Rap, premiação que daria maior visibilidade e moral aos nomes do rap paulistano. Sendo assim, habituada com os ares da Cidade Maravilhosa, onde sempre passava suas férias, esta quase adulta, sem maiores pretensões profissionais, muda-se com a intenção de apenas residir, porém, seu histórico junto a RapSoulFunk! fala mais alto, e em 1997 ela recebe o convite do rapper Marcelo D2 para organizar a primeira edição da festa Hip-hop Rio na Bunker, quando percebe que poderia dar mais suporte ao movimento carioca criando um intercâmbio entre Rio e São Paulo. Desta forma, em 2003, a RapSoulFunk! resolve montar sua base carioca, colocando-a, ao lado de Catra, a frente dos negócios. O sucesso de trabalho desta mulher é tão apreciado, a ponto dos novos empreendedores do hip-hop, como é o caso da festa Players, convidarem-na para organizar as edições 1 (DJ Big Tex), 2 (MV Bill e Xis) e 3 (Snoop Dogg e Ja Rule no Skol Hip-hop) , trazendo resultados acima do esperado... Delongar ainda mais o histórico desta mulher, seria talvez não dar a você, caro internauta, a oportunidade de conhecer dela mesma suas atitudes, pretensões e preocupações junto a esta cultura. Uma mulher talvez atípica aos questionáveis padrões do hip-hop nacional, contudo, com o ímpeto empreendedor existente em poucos ou quase nenhum dos membros deste movimento...
Portanto, antes que se teçam comentários infundados à respeito dela em suas páginas eletrônicas pessoais, examine pelo menos seu histórico, afim de que tais críticas não caiam na tão previsível contradição, e, se assim ocorrer, então não se esqueça de localizar o nome de ´Diana Bouth` no rol das poucas mulheres que trabalham sério pelo ´hip-hop` no Rio...

Rio Festa- Como está caracterizado o quadro da RapSoulFunk e como ela se apresenta diante do mercado ?
Diana Bouth- A RapSoulFunk é uma empresa do Primo Preto juntamente com o Catra, e quem segura a empresa em São Paulo é o Dom Cabe – que também tem uma empresa que se chama Gurilla Groove – e eu aqui no Rio. Dentro da empresa tem a vertente do funk, que quem cuida é o Binho, e a RapSoulFunk é isso. E, em se tratando de mercado, ela é uma facilitadora, ou seja, uma articuladora. Na verdade, a nossa função é profissionalizar. Com todos os contatos que a gente tem devido a estes 10 anos de movimento, a gente pode facilitar dessas coisas acontecerem, e, com o nosso know-how levar esse profissionalismo aos artistas. O nosso interesse é que os artistas do hip-hop possam contar com a RapSoulFunk! pra poder fazer acontecer os seus projetos pessoais, lançar o seu cd, ter um contato com uma gravadora, colocar o som pra tocar nas pistas... Os nossos contatos facilitam esse tramite pra que o verdadeiro hip-hop chegue ao grande público, já que o hip-hop tem um carro principal que é a música. Mas, não vamos mostrar só ela, mas toda a cultura que vem atrás.

Rio Festa- Existe uma gama de críticos` do hip-hop alegando que a RapSoulFunk não dá atenção ao subúrbio, por esta ser desprovida de grande poder aquisitivo. Você concorda com tais alegações?
Diana Bouth- Se a gente ainda não chegou no subúrbio, é pela falta de relacionamento, porque em São Paulo a gente tá lá, e taí o baile da Class por exemplo, então, se aqui no Rio as pessoas que atuam nas comunidades têm o interesse de fazer o evento e mostrar o som, tem que contar com a RapSoulFunk! A gente não tem o preconceito de trabalhar em nenhum lugar, pra nenhum tipo de público. Realmente, a realidade da empresa nesse momento, é sim, as pessoas que tem dinheiro e querem fazer eventos de hip-hop. Se nós não nos envolvermos, eles vão fazer de qualquer maneira, então, o quê a gente tenta fazer? Tá agregando quem vive na batalha há mil anos nisso! Senão, a gente não ia precisar tá fazendo também: era só abrir mão! Então, a gente tem interesse em fazer, estamos de portas abertas, só que na real, a nossa facilidade é fazer o caminho inverso, ou seja, trazer quem tá lá no subúrbio pra cá! Tirar da comunidade e colocar no mainstrean! Abrir os olhos e os ouvidos de todos pro que tá acontecendo lá dentro! Porque não são todos os mauricios e patrícias que são como eu! Não nego as minhas origens, mas, graças à Deus, eu não tapei meus ouvidos e fechei os meus olhos!

Rio Festa- Como está a agenda da RapSoulFunk! para este ano?
Diana Bouth- O que já está certo é o 50 Cent em setembro, que é uma coisa mais NÓS mesmo, sem todos aqueles caras envolvidos (referindo-se aos shows do Snoop Dogg e Ja Rule) na organização. Facilitou! Realmente, pra fazer uma primeira vez, a gente teve que passar por essa sociedade pra fazer acontecer, e agora as coisa foram facilitadas. Então, o 50 Cent vai ser no Rio e em São Paulo, isso é uma grande vitória pra gente tá trabalhando em São Paulo com um evento grande, e na seqüência tem mais três outros artistas pro final do ano, que eu não posso falar ainda, mas eu posso falar pra galera se preparar, porque vem chumbo grosso pela frente, risos... A gente faz 10 anos no ano que vem, o nosso objetivo principal, que também é a maior carência que a gente sente aqui no Rio, é uma casa de cultura exatamente como acontece em Diadema (SP). Porque é aquele mesmo ponto que eu já toquei antes em relação ao profissionalismo: o moleque, se ele quer ser dj, ele tem que ter acesso aos discos, ao equipamento pra poder treinar a hora que ele quiser. O cara que quer ser mc, ele tem que ter livros, conhecer os poetas e os filósofos e entender que é muito mais que apenas saber rimar; da mesma forma os b. boys e os grafiteiros. Então esse é o nosso projeto, de até 2005 abrir a primeira Casa de Hip-hop do Rio de Janeiro e fazer dela o point do movimento aqui, onde todos os artistas que passarem por lá, estarão interagindo com palestras, debates, work shops, shows etc... e, acima de tudo, sem preconceito!

Rio Festa- Você é uma empreendedora deste tão complicado movimento. Deixe um conselho para a mulher que deseja adentrar-se nele.
Diana Bouth- Pra todas as minas que tão no desenrole desse movimento: tem que ter humildade, não se preocupar com o que os outros falam, porque vão falar mesmo, ainda mais sendo mulher e só por se mulher, você tá dando uma brecha pros outros falarem. Então, a sua defesa tem que ser o ataque! Não fica de bobeira, faz o seu trabalho, tenta ser a mais profissional possível e deixa os outros falarem, porque vão falar de qualquer jeito! Tenha consciência! Vá em busca do certo! A gente erra mesmo, mas no final vai dar tudo certo!

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